terça-feira, setembro 05, 2006

Heloísa Helena sem açúcar e sem afeto

No início do Governo Lula um amplo setor da sociedade, da qual me incluo, ficou entusiasmado com a postura ética da então senadora do PT Heloísa Helena. Não só negava-se a compactuar com o debate distorcido da Reforma da Previdência, mas também a votar. E assim foram atitudes sucessivas que a levaram sair do PT no auge do gozo do aparato público. Aliás, é raro um líder político da envergadura da Senadora se abster de centenas de cargos públicos, ainda mais no Nordeste onde um emprego nos Correios gera inúmeros votos e lealdade política duradoura.

Armava-se clima para a reorganização da esquerda, a Senadora optou em fundar um partido e partir para campanha presidencial. Não vou entrar aqui entrar nas dezenas de equívocos do novo PSOL, vou considerar positiva o papel dela nas eleições que teoricamente é de reafirmar a falência do modelo neoliberal e das alianças com setores conservadores do nosso glorioso "campeão da desigualdade".Mas aí fica difícil se empolgar com Heloísa Helena e demais candidatos do PSOL.

Primeiro foi a história do aborto, HH passa no discurso a responsabilidade à mulher, argumentando que com tantas tecnologias preventivas a gravidez indesejada é descuidado. Fiquei atônito ao ouvir isso de uma nordestina que cresceu em condições educacionais e religiosas desfavoráveis a autonomia feminina. Mas tudo bem... incorporei o equivocado discurso de vitimismo: "ela é mulher, religiosa e precisa se libertar, é uma questão cultural".

A segunda mancada é o modo como se apresenta ao eleitorado. Discute com os entrevistados, denomina "ministrozinhos" os então Ministros da Presidência da República, tudo põe a culpa no FMI, não passa tranqüilidade ao eleitor e etc. Mas Lula também era assim em 89, ela não tem uma assessoria milionária, deve estar com o estado emocional alterado e tantas outras desculpas de minha auto psicologia de esquerda.

A terceira tem sido mais difícil de engolir, o crescimento de 7% ao ano apartir de gastos públicos. É de notório saber que o capitalismo e o estado moderno estão em crises constantes há 35 anos. Um dos problemas é a incapacidade do estado em investimento, e o pior, gerar emprego com seus gastos públicos. Também não é mencionado pela candidata que o crescimento econômico no atual capital financeiro não é primordial - para aqueles apocalípticos como o que vos escreve mais ainda -. Já que o importante é propiciar a população igualdade de
oportunidades e uma base educacional e cultural que a sustente no pós crise, além de outros alicerces como a ciência e tecnologia. O Brasil não deve seguir os passos de uma China com crescimentos estrondosos, mas sem base democrática sólida. Nosso caminho ao idealizado socialismo é outro, e parece que o PSOL não consegue nos apresentar. Ao contrário da letra de Chico Buarque, Heloísa Helena está sem açúcar e sem afeto com a esquerda. É comocomeçássemos um relacionamento contando os dias para acabar. Acho que é por isso que não vi bandeiras do PSOL nas ruas soteropolitanas.

Pedro Caribé



1 Comments:

Blogger Roberto Martins said...

Sagaz comentário Caribé. Resta saber onde os apocalipticos irão se resguardar. Ou pensaremos que tudo acabou... e não existe mais política e sim a transpolitica. (?)

Saudavel aperto de mão!

5:41 AM  

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