quinta-feira, abril 03, 2014

Linha Viva: o apartheid de ACM III mostra sua face


Por Pedro Caribé

Projetada por João Henrique, a Linha Viva já está com licitação aberta em Salvador. É o maior crime à cidade desde Reforma Urbana de ACM I em 1968, e demonstra qual é de fato o projeto de ACM III para a capital. É uma autopista que atravessa a periferia com pedágios e destinada apenas para carros, destrói áreas verdes e desaloja mais de 3 mil famílias.

A especulação imobiliária da Região Metropolitana vai se deleitar. Os pobres vão ter na sua janela um muro os separando de uma via semelhante à Linha Amarela no Rio, mas não da poluição. Essa medida demonstra o quão o "Salvador Vai de Bike" se torna mera purpurina frente ao modelo urbano e econômico que irrompe barreiras municipais.

A aprovação da Linha Viva também evidencia a incapacidade da oposição apresentar outro modelo urbano e polarizar o debate. Construir viadutos, pistas e pontes também tem sido a base da proposta modal do governo petista. Tende a ser mais um debate perdido nesses 15 meses de gestão.

Sim, a prefeitura de ACM III vem carregada de novas e velhas práticas. O contexto político também está carregado de novos e velhos vetores. Mas não adianta ser oposição pura e simplesmente, ou repetir mantras manjados. Falta direção política, e isso não significa reformulação de elite burocratizada. Falta ouvir e se aproximar dos Tapuias que colorem o carnaval, os insubordinados que lutam contra a higienização da rola e os maloqueiros que alarmam o perigo do armamento à Guarda Municipal.

Existe uma tradição de resistência secular nas veias da cidade a que as elites políticas à esquerda se distanciaram. Nos primeiros meses de gestão alguns enfatizavam os buracos na rua. Era óbvio que esse tema iria ser contornado pela gestão, e ainda por cima é pauta prioritária da classe média conservadora.

Brigar contra o aumento do IPTU? Mas não é exatamente isso que a prefeitura do PT em São Paulo tenta fazer? Um dos problemas nevrálgicos da cidade é a falta de arrecadação, se arrasta há décadas, enfatizado pela desastrosa reforma no uso do solo de ACM I em 68. O aumento do IPTU abre brecha necessária para maior intervenção estatal e democrática em Salvador. A questão não deveria ser, o que fazer com o IPTU, como será direcionado?

Depois inventaram em enfatizar a exclusividade das cervejas nas festas populares. Vender cervejas da Ambev não deveria ser o foco do debate, mas sim: é certo ocupar o imaginário da cidade com marcas de cervejas e bancos assim como fizeram com a Fonte Nova? O capital simbólico de Salvador é muito forte para ser colonizado sem regulação pela Schin e Itaú. É como se a camisa da seleção tivesse mais banners do que um clube na Série C.

Enfim, quem avisa amigo é. Porque nas eleições de 2014 será difícil se dizer diferente num palanque recheado por César Borges, Otto Alencar, Leão, Negromonte e Marcelo Nilo.

Leia mais neste artigo de Ana Fernades