sábado, abril 26, 2014

O chumbo impregnado nos jornalistas baianos

Por Pedro Caribé

Se enganam os que acham que os tempos de chumbo acabaram na imprensa baiana. Atualmente repórteres e ex-repórteres do A Tarde respondem por processos judiciais originários de empresas imobiliárias em Salvador. O jornal sequer é citado, e deixa os profissionais ao léu. O Sindicato dos Jornalistas só solta notas, e ainda sem citar os autores das ações e até mesmo esquece outros atingidos. A ABI então, nem cisca.

O primeiro a ser condenado é Aguirre Peixoto. Seis meses e seis dias em regime aberto, revestidos num multa de 10 salários mínimos. Na época das reportagens ele chegou a ser demitido do A Tarde e depois foi reintegrado devido mobilização bonita e singular da redação. Foi suspiro final. O curioso é que a ação envolve obras do governo do estado na capital, sob licenças ambientais da prefeitura. Só os empresários mostraram a cara, mas os processos envolvem muito mais gente, direta ou indiretamente.

Os réus tem dificuldades para se reunir e enfrentar o assunto coletivamente. Ainda assim, parece ser o único caminho para enfrentar o caso. Acho que alguns nem tem noção do que se passa ou se passará.

Tempos atrás instiguei uma ex-editora do A Tarde a denunciar os ataques judiciais após seu ativismo contra o Camarote Salvador como um caso de cerceamento à liberdade de expressão. Ela recebeu o comunicado dentro do jornal, mas disse que o caso não tinha nada a ver com sua atividade profissional. Ela não entendeu que sua função social estava para além de um empresa, e digo mais, para além de um diploma ou registro profissional. Envolve radialistas, comunicadores comunitários, blogueiros, escritores de facebook.

Sim, temos técnicas e tecnologias potentes para difundir nossas posições e informações. Mas as velhas amarras por meio do Estado, grupos empresariais e até mesmo na formação dos comunicadores persiste. Quem pratica algo que se identifica como jornalismo na Bahia sabe bem disso.

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