terça-feira, julho 08, 2014

A nova face do complexo de vira-latas

Comentei por aí que as imagens dos alemães no litoral baiano lembram os brasileiros brincando nos jardins suecos em 1958. Acho a primeira Copa vencida a mais mágica, dentro e fora do campo. Foi ela que dividiu a nossa, e toda a história do futebol. E este 7x1 recoloca os caminhos desse esporte nos trilhos, e isso encanta.

Uma das peças desse encanto é a ausência de sadismo e sacarmo no triunfo. Os toques alemães encantam como o choro e banho de cuia de Pelé, os dribles de Garrincha sob os manés. Fluem naturalmente, conquistam a torcida adversária.

Por isso, fique à vontade para torcer contra o Brasil, a favor da Alemanha e até da Argentina. Mas pense bem no que motiva comemorar, e se realmente é alegria, ou alguma outra coisa entranhada.

Até porque futebol não é só um joguinho. Não dá pra purificar essa doideira de misturar futebol e política.

Sinto que perdemos no futebol mas também nos nossos permanentes patrimonialismo e patriarcalismo, e no crescente chauvinismo, representados por Felipão e suas escolhas obsoletas.

Enfim, por termos uma vida que não pode ser purificada, a temporada está aberta para continuar analogias instigantes, mas também excessos daqueles que tentam colocar num governo Dilma todos os méritos ou fracassos. Excessos também tentar nesse momento festejar a derrota em nome de motivos nobres, como os abusos do estado policial e os nossos Amarildos e guris executados.

Então quer dizer que aqueles que comemoram a derrota vêem em algum outra seleção na semifinal, e suas relações com a política, méritos ao ponto de merecer a Copa? Quer dizer que nosso povo tem a derrota como destino até, sabe lá quando, superar suas mazelas?

Esta é a nova face do complexo de vira-latas. Busca um determinismo cultural para explicar as derrotas no futebol, e na história, sob pitada de sadismo,

Nesse caminho a relação futebol-política vira pura esquizofrenia. E a maioria dessas pessoas são tão distantes do cotidiano do futebol quanto aqueles que estão nestas Arenas assépticas gritando "Sou brasileiro, com muito orgulho..." ou um grito para zoar os argentinos com melodia alemã!

Porque aqueles que vivem o futebol no dia a dia estão buscando democratizar seus clubes, por fim ao poder enclausurado das federações, não elitizar os estádios, remontar a formação na base, enfrentar a violência, e também ter mais espaços de lazer para os craques surgirem.

Estas pessoas é que vão enfrentar daqui uma semana um futebol brasileiro medíocre, em todas as suas séries nacionais e estaduais. Lotado de "professores" que atrapalham o fluir do jogo no estilo dos alemães.

Creio que estas pessoas não vivem no complexo de vira-latas. Vivem sob magia, doideira, mas acima de tudo crença que as coisas podem melhorar