quarta-feira, julho 30, 2014

O Irdeb é do "povo", e não de uma Secretaria

Glauber Rocha no programa "Abertura" da extinta Tv Tupi.

No governo do general Baptista Figueiredo a Tv Tupi preparava seu funeral com estilo. O programa "Abertura" comandado por Glauber Rocha marcou o jornalismo nacional com audiências superiores ao "Fantástico". Detinha uma ousadia inexistente até nos atuais dias democráticos, tanto em conteúdo quanto em formato.

O "Abertura" representa a visão holística de Glauber do audiovisual. O expandiu para públicos até então impenetrados. E assim o fez, sob relação dialógica com o "povo". Não era um bando de intelectuais formando as massas. Ao contrário, buscava levar a tona rostos e ideias como as do negro suburbano Brizola.

Cerca de 35 anos depois, a TV do "povo" é um capítulo pouco reverberado da trajetória de Glauber. A própria TV brasileira continua a ser um amor popular sob potencialidades pouco aproveitáveis. Haja vista na nossa querida Bahia.

No debate para o governo do estado, o Irdeb se resumiu a ser comandado por Secretaria A ou B. Num estado com acesso à internet sob baixa quantidade e qualidade, a televisão, e também o rádio, continuarão a ter papel decisivo para produção cultural.

O fortalecimento do Irdeb nos últimos anos, por meio da digitalização e multiprogramação (sim, já há mais de um canal de TV transmitido), o coloca sob condições ímpares para complementar à radiodifusão comercial. Tarefa que só se torna exitosa se for acompanhada por mecanismos de autonomia ao poder executivo e valorização do conteúdo independente.

O Irdeb não deve ser da Secult ou Secom. As pessoas precisam o compreendê-lo como algo que lhes pertence, algo público. E se há realmente esta distinção de projeto para o audiovisual, é preciso saber e querer defender, caso contrário será pautado por conservadorismo que pretende voltar o Irdeb aos tempos que o horizonte era disseminar restritamente "boa música", "arte alternativa", "tradição" ou agenda do governador.

E assim, o distancia ainda mais de ser potente mediador numa produção cultural dinâmica e independente para além do axé music ou grotesco. O distancia de assumir um vácuo na informação, sob maior autonomia e recursos para o jornalismo.

Enfim, continuo a achar esta eleição um momento histórico mais importante do que muitos podem imaginar ou alcançar.