sexta-feira, maio 17, 2013

Os riscos do movimento "Bahia da Torcida"


Por Pedro Caribé

Amante do futebol, torço para que o rival esteja perdendo suas partidas, mas que jamais sua torcida perco elo de pertencimento à uma paixão. Futebol é manifestação cultural, vitalidade social, e também política, por isso a democracia é o caminho a que defendo para que cada um se sinta ainda mais participante da história ao gritar nas arquibancadas. Torço para que nas derrotas qualquer torcida não vá para casa com a sensação de sua inutilidade frente aos esquemas do diretor de futebol, o mercenarismo dos jogadores e a vaidade do presidente.

No futebol brasileiro se somam nos últimos anos diversas manifestações para democratizar os clubes, federações e até mesmo os estádios. Na Bahia o "Movimento Somos Mais Vitória", por exemplo, peleja há três anos, e os jornais locais jamais deram espaço superior a notas de "rodapé". Já o movimento "Bahia da Torcida", erguido em poucos dias tendo a liderança de um publicitário, Sidônio Palmeira, tem mais espaço do qual qualquer fila de meia hora no ferry boat.

O movimento aparece como um caminho de salvação, mas desde já demonstra mais perigos do que se possa imaginar. Sidônio Palmeira é o principal publicitário do principal anunciante local - o governo estadual - e também da Arena Fonte Nova. Se engana quem credita a publicidade mero papel de prestação de serviço, ela é corpo e alma de governos e empresários. Por isso, Sidônio é peça chave para que a Arena se viabilize em termos financeiros e políticos. Tendo parcela significativa para arquitetar um dos maiores crimes ao imaginário popular: a transformação da Fonte Nova em Arena Itaipava.

A Arena tem experimentado públicos muito abaixo do previsto. Na primeira partida da final do campeonato baiano foram apenas 20 mil presentes. Já contra a Luverdense, a tentativa de púbico zero esbarrou em ingressos distribuídos gratuitamente pela Arena. O tricolor já passou por fases piores, nas Séries B e C, mas jamais teve uma rejeição tão grande a comparecer num estádio que os ingressos mais baratos custam R$ 35,00.

A Arena Itaipava também é um dos gargalos econômicos a serem resolvidos pelo Bahia caso deseje retornar ao posto de destaque no cenário nacional. Somam-se os textos colocando os problemas presentes e futuros as receitas do clube, inclusive por comentaristas mais polidos devido a tribuna que ocupam, a exemplo de  Darino Sena e Marcelo Sant'Ana, ambos da Rede Bahia.

Dessa forma, a Arena Itaipava corre risco de se tornar próximo alvo dos protestos dos torcedores, e está cabendo a Sidônio evitar isso, ao lançar o movimento na antiga Fonte Nova.

Sidônio que deve ser o "Secretário" mais forte ao longo dos seis do governo Wagner. Ninguém frequenta tanto o Palácio sem sofrer qualquer tipo de crítica pública. Ninguém tem carta branca para fazer campanha para um deputado aparentado do PSDB enquanto participa do núcleo de uma campanha de um petistas para governo do estado. Ninguém tem os repasses de dinheiro público tão preservados pelos Tribunais de Contas e veículos de impressa quanto as verbas publicitárias manejadas pela Leiaute.

Por isso, corre-se um risco ainda mais grave: relacionar uma manifestação cultural de tamanha envergadura com a propaganda de um governo. Isso, até onde me digam o contrário, é um sinal de relação totalitária entre Estado e povo. Enquanto eleitor de Wagner, antes mesmo de ter título de eleitor, espero que isto não se perpetue, não seja vitorioso, porque ele ainda tem um legado histórico a que respeito. Aliás, desde que Wagner resolveu se ligar umbilicalmente ao futebol, ao promover o BaxVi da Paz na antiga Fonte Nova, os espíritos insanos do esporte trataram de refutá-lo em doses drásticas e nem sempre homeopáticas. 

Pois bem, espero que o Bahia passe por uma revolução democrática, mas que os torcedores sejam os reais protagonistas. Em 2008, após o desabamento da Fonte Nova e a iminente reinauguração de Pituaçu, vários que se dizem opositores de Marcelo Guimarães Filho aceitaram uma vaga no Conselho do clube. Pessoas das mais diversas matrizes políticas partidárias se uniram. O time retornou à Séria A após sete anos e foi campeão baiano depois de 11 anos. Mas a torcida continua a não se sentir integrante da sua história.

Agora, no primeiro encontro do movimento "Bahia da Torcida" com a diretoria, estavam presentes: representando Marcelo Guimarães Filho um sobrinho de Carlos Alberto Dultra Cintra - o Don Corleone do Judiciário baiano; e como intermediador do movimento, o irmão do radialista José Eduardo, o Bocão, reconhecido pelos nobres serviços de chantagem a gestores e manipulação aos torcedores.

Cuidado torcedores do Bahia, até mesmo os mais "esclarecidos" estão a fazer de tudo por qualquer triunfo, ou um campeonato nacional não vexaminoso. Cuidado, os problemas futuros podem ser piores do que duas goleadas para o Vitória na Arena Avenida Sete 51.