sábado, setembro 20, 2014

Aranha: estratégias da violência para enfrentar o racismo


Judicializar o racismo é um caminho fundamental para combatê-lo, mas não o único. Longe de ser especialista na área, sei que as diversas varas, tribunais e nuances judiciárias não tem elementos, seja a nível político ou jurisprudência para captar situações como a ironia contra Aranha por parte de torcedores e imprensa. Também não tem elementos para enfrentar casos de racismo institucional em ambientes de trabalho. Nesses casos, o que fazer?

Nesse sentido, até agora nenhum outro pensamento se faz mais presente que o de Frantz Fanon. Sob o desejo de ser reconhecido enquanto indivíduo, “você” coloca a vida em risco e ameaça o outro. Não se trata de apologia, muito menos reproduzir uma violência a que esperam do preto, ou preta - um risco a que muitos de nós caem. Aquela que o tenta transformar em "bárbaro", ampliando a negativa à sua existência. Aranha poderia dar um tapa ou palavrão aos repórteres, e seria imediatamente repugnado por quase todos. Sicrano, politicamente correto, idoneidade inquestionável, será o primeiro a dizer: "mas..." A ponderação num contexto desfavorável é o suficiente para descontextualizar que ali é uma estratégia de sobrevivência. É apenas uma variação do que fez Felipão ao dizer que Aranha fez uma "esparrela" ao fazer o que tem feito.

Pois bem, continuemos com a violência, essa enquanto caminho presente para não dar mais um passo atrás. Como podemos fazer para sair do ciclo vicioso? Aranha já nos ensinou bastante ao fazer as câmeras registrarem muitos atos. Agora é seguir em frente. Que tal levantar de um bar, sair de um loja ou dar as costas, toda vez que alguém aparecer com a camisa do Grêmio? Infelizmente, enquanto um torcedor não a utilizar com um símbolo que o caracterize como antirracista, será identificado como tal. Podemos fazer memes com a repórter com seu ar cínico e compará-la ao sacarmos de um carrasco? Ou relacionar a Arena do Grêmio à um campo de concentração dos moldes nazistas, que por sua vez foram criados na Namíbia sob colonização alemã?

Ha, por favor, sem papinho de ser contrário ao linchamento, porque não sabe o que é linchamento. Ninguém vai assassinar nem fisicamente, nem moralmente um racista. O que se faz é buscar lhe retirar da sua realidade natural, não humana e racista: “O único método de ruptura com este círculo infernal que me reenvia a mim mesmo é restituir ao outro, através da mediação e do reconhecimento, sua realidade humana, diferente da realidade natural. Ora, o outro deve efetuar a mesma operação”. Fanon em "Peles Negras, Máscaras Brancas".