terça-feira, julho 30, 2013

Joaquim Barbosa: o inimigo imaginário.

Joaquim Barbosa é o inimigo imaginário, por dois motivos: 

Primeiro que é quase nula a possibilidade de ser candidato à presidência: tem uma saúde debilitada, nenhum agrupamento partidário sólido com vínculo, nenhuma elite econômica disposta à financiá-lo, e ainda por cima é preto, ao que declarou ser barreira intransponível no País atualmente para tal cargo.

Segundo é que os ataques desenfreados buscam anular o simbolismo a que ele carrega. Das lideranças políticas no País, somente Lula, um operário e nordestino; e Dilma, uma mulher, ex-guerrilheira; detém carga simbólica equivalente a Barbosa. 

Repito o que já escrevi, os erros cometidos por ele no STF não são inferiores ao do tradicional petista Ayres de Britto, ou os outros sete membros da corte indicados por governos petistas nos últimos 10 anos. Logo ele, a que todos sabemos ser isolado no Tribunal, se coloca um poder desmensurado nas decisões. Na verdade, o poder dele é simbólico. Poder que o STF não detinha até então.

É uma pena que a esquerda continue a se distanciar de um dos principais lideres negro da história brasileira. É uma pena também que muitas lideranças negras estejam em silêncio, não compreendendo que a destruição do simbolismo de Barbosa afeta a todos nós. Ainda mais quando isso é feito sob chuva de acusações sem direito ao contraditório, rasteiras e até infundadas.

Ao final, fico com as palavras de Dilma na Folha de hoje: "É o primeiro negro presidente do tribunal, pelos seus méritos, uma pessoa que se superou...Como presidente de poder, o Joaquim Barbosa sempre foi extremamente correto comigo".

quinta-feira, julho 25, 2013

UNB avança nas cotas na Pós. E a UFBA?


Nesta quarta, dia 24 de julho, foi um dia importante para aqueles na linha da luta anti-racista do Brasil. O Departamento de Sociologia da Universidade de Brasília é o primeiro programa de pós-graduação da UnB a instituir cotas raciais em seu processo seletivo. Por unanimidade dos votos! Fica os parabéns aos amigos e colegas que são representantes discente nesta pós. Eles tiveram papel fundamental em mobilizar professores e alunos. São colegas que tive oportunidade de conhecer neste primeiro semestre na UNB, e também ter diálogos intelectuais atraentes e respeitosos. A sociologia está deixando marcas imutáveis em minha trajetória. 

O curioso é que pude presenciar esta conquista numa UNB permeada de conservadorismo, elitismo e todos os ismos segregadores que se possa imaginar. Por outro lado, a UFBA com toda carga transformadora e negra que respira no Centro de Salvador não consegue estar à frente de mudanças deste quilate. UFBA que detém estruturas de excelência como CEAFRO e NEIM, bem como pesquisas historiográficas das mais sérias do continente. Cheia de negros e negras com estética e discurso potencialmente revolucionários. Universidade com um movimento estudantil historicamente maduro, envolvido com causas populares.

Brinco com meus colegas da sociologia que só lendo muito Gilberto Freyre para compreender como se processa o racismo velado no Brasil, em especial na classe média autoproclamada progressista ou de esquerda. Pós-colonialista, periféricos, feministas e anti-racistas, eles descartam Freyre. Eu continuo achando válido, pelo menos para compreender a UFBA.